quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A Ovelha cor de rosa


Era uma vez, há não muito tempo atrás, uma ovelha muito vaidosa. Ela tinha o pêlo branquinho, branquinho, sem nenhuma mancha, e orgulhava-se de produzir a lã mais macia da região. Um belo dia, esta ovelha vaidosa soube que seria mãe. Recebeu a notícia com alguma preocupação: 'será que vou ficar muito gorda? Será que meu pêlo vai ficar manchado?' Mas, no final das contas, ficou curiosa para saber como seria seu bebêzinho.
No final da primavera a ovelha vaidosa deu à luz uma linda ovelhinha. Mas a ovelhinha, ao contrário da mãe, não tinha o pêlo branquinho, branquinho. Ela era diferente. Da mãe e de todas as outras ovelhas. Ela era uma ovelha cor de rosa.
A mãe, vaidosa como só ela, ao ver a filha tão rosinha, não quis tê-la por perto. 'Uma filha assim, cor de rosa, o que os outros vão pensar de mim?', pensou ela. E deixou a ovelhinha, assim que ela nasceu, num grande pasto que havia ali perto.
A pobre ovelhinha cor de rosa, pequena e com frio, baixinho chorava – mééééé mééééé. As vaquinhas, vendo aquele pequeno novelo de lã rosa ali, compadeceram-se de sua situação. E começaram a tomar conta da ovelhinha cor de rosa.
O tempo ia passando e a ovelha cor de rosa crescia junto aos bezerros. Fazia tudo o que os outros faziam, e gostava de morar ali. Mas, secretamente, tinha um sonho. De viver em uma família de ovelhas.
Um dia, uma família de ovelhas com o pêlo branquinho como a neve passou perto do pasto. E viram a ovelhinha cor de rosa junto às vacas, bois e bezerros. Estranharam.
  • Ovelhinha, você vive num pasto?
  • Sim. Fui deixada aqui ao nascer, e as vaquinhas me criam.
  • Mas isto está errado. Elas não são ovelhas!
  • Não são ovelhas, mas são a família que eu tenho.
  • Por que você não vem conosco? Assim você fará parte de uma família de ovelhas de verdade.
A ovelhinha cor de rosa mal cabia em si de tanta felicidade! Finalmente teria uma família de ovelhas! Outros seres que fazem méééé ao seu lado – ao invés do costumeiro múúúúú de todos os dias.
A família de ovelhas levou a ovelha cor de rosa para sua casa. A filha, uma ovelha que tinha a idade da ovelhinha cor de rosa, logo disse: 'você não pode usar meu pente, minha tiara e nem minhas presilhas de cabelo. Não quero um único fio de lã rosa estragando as minhas coisas'. A ovelhinha cor de rosa ficou chateada com a nova irmã, mas aceitou.
Com o tempo, porém, a ovelha cor de rosa viu que não usar o pente da irmã era o menor de seus males. Os pais colocaram as duas em escolas diferentes e pareciam ter vergonha da cor rosa de sua filha adotada. E a pobre ovelhinha cor de rosa começou a se sentir cada vez mais triste e sozinha.
Até que, numa tarde destas, a irmã ovelha começou a implicar com sua cor rosa. E elas brigaram feio. Os pais, então, tomaram uma decisão: 'não tem lugar para você nesta casa! Está na hora de voltar para seu pasto!'
As vaquinhas receberam a ovelhinha cor de rosa de braços abertos. Mas ela, coitadinha, sentia-se mais rejeitada que nunca. 'Será que nunca haverá alguém para apreciar o rosa de minha lã?', pensava.
Os bezerrnihos já estavam crescidos e, um a um, iam sendo vendidos ou trocados. Mimosa, uma bezerrinha gorducha muito amiga da ovelha cor de roda, foi vendida como vaca leiteira para uma pequena fazenda perto dali. E teve uma ideia:
  • Eles vem me buscar amanhã, num caminhãozinho. Eu vou fingir que empaquei, não entro no caminhão. Daí você corre e se esconde lá dentro. Vamos as duas juntas para a fazendinha!
  • Mas, e se não me quiserem por lá?
  • Vão querer, aposto! E além do mais, quem não arrisca não petisca! Vamos tentar, ué!
  • Está bem, está bem – concordou a ovelha cor de rosa.
No dia seguinte, dito e feito: a vaquinha fingiu que não ia entrar enquanto a ovelha cor de rosa se escondia dentro do caminhão. Foram as duas juntas para a fazendinha.
Quando chegaram e o dono da fazenda foi ver sua vaquinha, uma surpresa: viu, ali encolhidinha, uma ovelha cor de rosa. Gritou para a mulher e as filhas: 'venham ver isto!'
Quando viram a cor rosa da ovelha, as filhas do fazendeiro caíram de amores por ela. Nunca tinham visto nada tão bonito na vida. A mulher dele, encantada com a lã rosa, pediu: 'ovelhinha, posso cortar um tanto da sua lã?'
A ovelha cor de rosa, que nunca tinha sido tosquiada e vivia morrendo de calor, fez que sim com a cabeça. Com todo carinho, a mulher do fazendeiro tirou uma camada de lã dela e fez dois lindos casacos cor de rosa: um para cada uma de suas filhas.
A ovelhinha cor de rosa passou a ser o xodó da casa. Todos adoravam tê-la por ali. Deram-lhe uma enorme almofada e ela dormia ao lado da lareira. Durante o verão, a mulher do fazendeiro tirava toda sua lã e fazia lindos casacos. No inverno, a lã já tinha crescido mais forte, mais bonita, mais rosa, para aquecer a ovelhinha. Todos nas redondezas começaram a querer ter casacos daquela lã rosa tão diferente, tão macia, tão original.
E aquela irmã que tanto dizia que não queria lã rosa, mudou de ideia. Ao ver todos usando peças cor de rosa, quis também. Tingiu o pêlo uma, duas, doze vezes. Mas nunca conseguiu ter o pêlo tão rosinha e tão lindo quanto daquela que um dia fora sua irmã.
Já a ovelhinha cor de rosa vive muito bem na fazendinha. Passa as manhãs brincando com as vaquinhas, os potros, os patos e as galinhas. À tarde, as filhas do fazendeiro voltam da escola e fazem uma festa danada com ela! Ela vive cercada de amor, e aprendeu uma valiosa lição. Na vida, sempre vai ter alguém para dizer que somos diferentes, e que o diferente é errado. Mas errado é quem pensa assim! São as nossas diferenças que nos tornam seres únicos, especiais. E é maravilhoso poder ser do seu jeitinho, especial, diferente e único!

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