sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Hamster

Hamster: This lively pet hamster will keep you company throughout the day. Watch him run on his wheel, drink water, and eat the food you feed him by clicking your mouse. Click the center of the wheel to make him get back on it.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O Cavalinho do Carrossel


Era um cavalo lindo, aquele. Era esbelto, de uma cor que reluzia ao sol. Mas não era um cavalo como os outros. Não cavalgava, não trotava, nem mesmo andava. Subia e descia, o dia inteirinho, naquele círculo mágico que fazia a alegria das crianças. Era um cavalo de carrossel.
Chamava-se Léo, o cavalo do carrossel. Tinha nascido ali, naquela roda itinerante, preso num constante vai e vem de pessoas e cidades. Conhecia a todos , já que o dono do carrossel às vezes o mudava de lugar. Seu cantinho preferido era bem no centro do brinquedo, entre dois outros cavalos – seus amigos, Junia e Tando. Como passara a vida toda ali, tudo o que conhecia dos lugares por onde passava era o que podia avistar ali do alto. Só que Léo prestava atenção ao que as crianças que montavam nele falavam. Muitas conversavam com ele, outras conversavam entre si, mas todas tinham algo de interessante a dizer. Léo também ouvia o que os adultos diziam, claro – embora nunca fosse nada tão divertido que valesse a pena prestar atenção. E, de tanto ouvir coisas boas sobre os lugares que haviam além do carrossel, Léo começou a querer sair dali. Nasceu nele uma vontade enorme, incontrolável, de sair do carrossel e cavalgar mundo afora.
Quando Léo disse a todos que queria cavalgar mundo afora, todos o apoiaram. Até mesmo o dono do carrossel, que lhe disse: 'vai Léo, cavalga o que tiver que cavalgar. Ponha asas, ganhe o mundo. Quando sentir saudades, será hora de voltar. Não coloco ninguém em seu lugar, que estará sempre te esperando.' E foi assim que, numa tarde fria de outono, Léo deu um pulo para fora do carrossel e ganhou o mundo.
Léo andou durante algum tempo, sem ver nada que não fosse estrada, antes de avistar algo. Era alguém que se movia devagar e engraçado, como se estivesse rebolando. Léo aproximou-se e viu, em sua frente, outro cavalo que não ele. Este, não era um cavalo de carrossel. Era um pangaré.
  • Olá. Sou Léo, e estou querendo viajar para conhecer tudo o que há por aí.
  • Olá. Você veio de onde?
  • De um carrossel que vai de cidade em cidade acompanhando o circo.
  • Ora, mas então já viajaste muito!
  • Sim e não. Já viajei, mas sempre preso ao carrossel. Agora que ver as coisas além daquela roda, quero cavalgar com minhas próprias patas!
  • Pois então conheceste o pangaré certo para ajudá-lo! Também eu adoro sair trotando por aí e posso acompanhá-lo. Vamos, juntos, então.
  • E como é mesmo o seu nome?
  • Oh, desculpe, não me apresentei! Sou Zé, o pangaré.
  • Que bom, vamos juntos, então. Léo, do carrossel, e Zé, o pangaré!
  • Isso aí, parceiro!
Nos dias seguintes, Léo e Zé tornaram-se inseparáveis. Zé era uma ótima companhia, tinha papo para tudo e para todos, e ensinou a Léo a jogar bola, a correr pelos campos e até mesmo a paquerar! Só que, conforme os dias se passavam, Léo começou a perceber que Zé não queria nada de nada com trabalho. Era um boa-praça, e também um boa-vida. Dizia que as coisas aconteciam naturalmente, que uma hora tudo acabava dando certo e assim levava a vida – uma hora fazendo um bico aqui, outra hora contando com a ajudinha de um amigo ali. Muitos lhe faziam favores, ele era mestre nisso: carismático, envolvia a todos em sua conversa e acabava conseguindo o que queria. Mas Léo não era assim. Não queria depender dos outros, não queria viver de favores. Então, depois de algum tempo, agradeceu ao amigo pela companhia e pelas lições e comunicou ' está na hora de eu continuar conhecendo o mundo'. Despediram-se, e Léo continuou sua jornada.
Depois de andar mais alguns dias, Léo deparou-se com um enorme estábulo. Nunca vira nada assim antes e, encantado, aproximou-se. Viu uma grande pista com obstáculos, onde um belo cavalo saltava, obedecendo aos comandos de uma menininha. Ficou bastante impressionado com aquilo e acabou assistindo ao treino inteiro. Quando a menininha saiu do cavalo, ele foi para o estábulo, onde Léo já estava esperando por ele.
  • Olá! Você salta muito bem, parabéns!
  • Obrigado, amigo. Você também salta?
  • Não, sou um cavalo de carrossel. Só subo e desço, agora que estou conhecendo o mundo. Aprendi a cavalgar ainda outro dia, saltar não tenho como!
  • Imagina. Se você já está acostumado com o sobe e desce do carrossel, vai ser fácil! Querendo aprender, posso te ensinar.
  • Quero, sim, claro! Parece tão divertido!
  • E é mesmo. Eu sou Tião, o garanhão. E você?
  • Sou Léo, do carrossel.
  • Prazer, Léo. Vamos começar os treinos agora mesmo!
Tião, o garanhão, era um cavalo de competição obcecado por medalhas. Sua rotina diária incluía, além dos treinos, exercícios e uma dieta rigorosíssima. Era um cavalo extremamente gentil, mas com gana de vitória. Não poupava esforços para sair-se bem nas competições.
Léo, por outro lado, nunca tivera uma rotina tão rígida quanto aquela. Seu trabalho no carrossel, além de divertido, permitia que ele conhecesse diferentespessoas. Para um cavalo de carrossel, a vida de competidor era árdua demais. Gostou de ter aprendido a saltar e de se exercitar. Gostou até mesmo da dieta restritiva de Tião. Mas, com o passar dos dias, começou a sentir falta da flexibilidade, do poder ir e vir, do descompromisso. Achou que estava na hora de seguir seu caminho. Conversou com Tião, agradeceu-lhe muito por todos os ensinamentos e despediu-se.
O cavalinho de carrossel ainda teria muita coisa por conhecer. Divertiu-se com um cavalinho branco enfeitado que fugira de uma loja de brinquedos, aprendeu a comer milho com um cavalo de fazenda e a entregar o leite com o cavalo que puxava uma carroça. De cada um que conhecia, Léo tirava uma lição. Fazia amigos por todos os lugares onde passava. Mas, teve um dia, que não teve mais vontade de fazer nada.
Neste dia, Léo sentira uma pontada no peito de manhã cedinho. Estranhou, mas não deu muita importância. No decorrer do dia, no entanto, a pontada foi ficando cada vez mais forte, até tomá-lo por completo. Léo entendeu o que acontecia, então. Aquela pontadinha que o tomou por inteiro era saudade. De seus amigos, de seu dono, de sua vida. Do carrossel.
Depois de ter viajado mundo afora, Léo voltou ao carrossel. Contou a todos as novidade, falou do que aprendera. Era, mais do que nunca, um cavalo feliz. Isto ninguém lhe ensinara, ele aprendera por conta própria, e era no pensava sempre. Não importa para onde vamos, nem por quanto tempo iremos ficar. Em algum lugar temos um vínculo do qual não conseguimos nos separar. Viajar o mundo é muito bom, fazer novos amigos é incrível. Mas, o melhor de tudo, é voltar para casa!
Léo agora estava plenamente satisfeito, pois sabia seu lugar no mundo. Continuou viajando muito, sempre que podia. Mas era só a saudade apertar que ele batia em retirada! Ali, naquele carrossel, ele era amado. Ali, naquele carrossel, tinha uma família. E é por isso que em nenhum outro lugar do mundo ele era tão feliz quanto ali...

A Ovelha cor de rosa


Era uma vez, há não muito tempo atrás, uma ovelha muito vaidosa. Ela tinha o pêlo branquinho, branquinho, sem nenhuma mancha, e orgulhava-se de produzir a lã mais macia da região. Um belo dia, esta ovelha vaidosa soube que seria mãe. Recebeu a notícia com alguma preocupação: 'será que vou ficar muito gorda? Será que meu pêlo vai ficar manchado?' Mas, no final das contas, ficou curiosa para saber como seria seu bebêzinho.
No final da primavera a ovelha vaidosa deu à luz uma linda ovelhinha. Mas a ovelhinha, ao contrário da mãe, não tinha o pêlo branquinho, branquinho. Ela era diferente. Da mãe e de todas as outras ovelhas. Ela era uma ovelha cor de rosa.
A mãe, vaidosa como só ela, ao ver a filha tão rosinha, não quis tê-la por perto. 'Uma filha assim, cor de rosa, o que os outros vão pensar de mim?', pensou ela. E deixou a ovelhinha, assim que ela nasceu, num grande pasto que havia ali perto.
A pobre ovelhinha cor de rosa, pequena e com frio, baixinho chorava – mééééé mééééé. As vaquinhas, vendo aquele pequeno novelo de lã rosa ali, compadeceram-se de sua situação. E começaram a tomar conta da ovelhinha cor de rosa.
O tempo ia passando e a ovelha cor de rosa crescia junto aos bezerros. Fazia tudo o que os outros faziam, e gostava de morar ali. Mas, secretamente, tinha um sonho. De viver em uma família de ovelhas.
Um dia, uma família de ovelhas com o pêlo branquinho como a neve passou perto do pasto. E viram a ovelhinha cor de rosa junto às vacas, bois e bezerros. Estranharam.
  • Ovelhinha, você vive num pasto?
  • Sim. Fui deixada aqui ao nascer, e as vaquinhas me criam.
  • Mas isto está errado. Elas não são ovelhas!
  • Não são ovelhas, mas são a família que eu tenho.
  • Por que você não vem conosco? Assim você fará parte de uma família de ovelhas de verdade.
A ovelhinha cor de rosa mal cabia em si de tanta felicidade! Finalmente teria uma família de ovelhas! Outros seres que fazem méééé ao seu lado – ao invés do costumeiro múúúúú de todos os dias.
A família de ovelhas levou a ovelha cor de rosa para sua casa. A filha, uma ovelha que tinha a idade da ovelhinha cor de rosa, logo disse: 'você não pode usar meu pente, minha tiara e nem minhas presilhas de cabelo. Não quero um único fio de lã rosa estragando as minhas coisas'. A ovelhinha cor de rosa ficou chateada com a nova irmã, mas aceitou.
Com o tempo, porém, a ovelha cor de rosa viu que não usar o pente da irmã era o menor de seus males. Os pais colocaram as duas em escolas diferentes e pareciam ter vergonha da cor rosa de sua filha adotada. E a pobre ovelhinha cor de rosa começou a se sentir cada vez mais triste e sozinha.
Até que, numa tarde destas, a irmã ovelha começou a implicar com sua cor rosa. E elas brigaram feio. Os pais, então, tomaram uma decisão: 'não tem lugar para você nesta casa! Está na hora de voltar para seu pasto!'
As vaquinhas receberam a ovelhinha cor de rosa de braços abertos. Mas ela, coitadinha, sentia-se mais rejeitada que nunca. 'Será que nunca haverá alguém para apreciar o rosa de minha lã?', pensava.
Os bezerrnihos já estavam crescidos e, um a um, iam sendo vendidos ou trocados. Mimosa, uma bezerrinha gorducha muito amiga da ovelha cor de roda, foi vendida como vaca leiteira para uma pequena fazenda perto dali. E teve uma ideia:
  • Eles vem me buscar amanhã, num caminhãozinho. Eu vou fingir que empaquei, não entro no caminhão. Daí você corre e se esconde lá dentro. Vamos as duas juntas para a fazendinha!
  • Mas, e se não me quiserem por lá?
  • Vão querer, aposto! E além do mais, quem não arrisca não petisca! Vamos tentar, ué!
  • Está bem, está bem – concordou a ovelha cor de rosa.
No dia seguinte, dito e feito: a vaquinha fingiu que não ia entrar enquanto a ovelha cor de rosa se escondia dentro do caminhão. Foram as duas juntas para a fazendinha.
Quando chegaram e o dono da fazenda foi ver sua vaquinha, uma surpresa: viu, ali encolhidinha, uma ovelha cor de rosa. Gritou para a mulher e as filhas: 'venham ver isto!'
Quando viram a cor rosa da ovelha, as filhas do fazendeiro caíram de amores por ela. Nunca tinham visto nada tão bonito na vida. A mulher dele, encantada com a lã rosa, pediu: 'ovelhinha, posso cortar um tanto da sua lã?'
A ovelha cor de rosa, que nunca tinha sido tosquiada e vivia morrendo de calor, fez que sim com a cabeça. Com todo carinho, a mulher do fazendeiro tirou uma camada de lã dela e fez dois lindos casacos cor de rosa: um para cada uma de suas filhas.
A ovelhinha cor de rosa passou a ser o xodó da casa. Todos adoravam tê-la por ali. Deram-lhe uma enorme almofada e ela dormia ao lado da lareira. Durante o verão, a mulher do fazendeiro tirava toda sua lã e fazia lindos casacos. No inverno, a lã já tinha crescido mais forte, mais bonita, mais rosa, para aquecer a ovelhinha. Todos nas redondezas começaram a querer ter casacos daquela lã rosa tão diferente, tão macia, tão original.
E aquela irmã que tanto dizia que não queria lã rosa, mudou de ideia. Ao ver todos usando peças cor de rosa, quis também. Tingiu o pêlo uma, duas, doze vezes. Mas nunca conseguiu ter o pêlo tão rosinha e tão lindo quanto daquela que um dia fora sua irmã.
Já a ovelhinha cor de rosa vive muito bem na fazendinha. Passa as manhãs brincando com as vaquinhas, os potros, os patos e as galinhas. À tarde, as filhas do fazendeiro voltam da escola e fazem uma festa danada com ela! Ela vive cercada de amor, e aprendeu uma valiosa lição. Na vida, sempre vai ter alguém para dizer que somos diferentes, e que o diferente é errado. Mas errado é quem pensa assim! São as nossas diferenças que nos tornam seres únicos, especiais. E é maravilhoso poder ser do seu jeitinho, especial, diferente e único!

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A Ciranda de Ana Maria


Anamaria era uma menina esperta, carinhosa, que tinha uma porção de amigos em todos os lugares. Gostava de brincar de pique, de pular elástico e corda, de bonecas e de bola. Mas o que Anamaria gostava mais que tudo era de brincar de roda.
Na escola, no clube e no prédio, todos seus amigos já sabiam desta mania. Quando era sua vez de escolher a brincadeira, Anamaria decretava: 'vamos brincar de roda!' E a criançada ficava na ciranda da Ana, rodando e rodando sem parar.
Conforme o tempo ia passando, as crianças começavam a ficar tontas de tanto brincar de roda. E pediam: 'vamos brincar de outra coisa, Anamaria!'. Ela, que era boa amiga, concordava. Mas, no dia seguinte, já queria cirandar novamente.
E Anamaria gostava tanto de brincar de roda que brincava mesmo quando estava sozinha. Em casa, abria os braços e começava a cantar suas musiquinhas, rodando e rodando sem parar. Pai Francisco entrava e saía da roda, anéis de vidro se quebravam. E ela rodando, rodando, rodando.
De tanto brincar de roda, um dia a menina não conseguiu mais parar. Começou a querer ficar rodando, sempre. Rodava até ficar zonza, parecendo uma baratinha tonta! Sua mãe, preocupada, consultou um médico, que diagnosticou:
  • Anamaria está com ciranda ciranditis aguda!
  • Qual o remédio, doutor? - perguntou a mãe aflita.
  • O remédio é deixá-la rodar! Uma hora ela enjoa e para.
E o tempo passava sem que Anamaria enjoasse da roda. Gostava de rodar, rodar, rodar sem parar. Não cansava de sua brincadeira favorita. Tornou-se tão craque que não enjoava mais. Já seus amigos, por outro lado, não conseguiam nem vê-la rodando: ficavam zonzos só de olhar!
Anamaria ficou triste de seus amigos não quererem rodar com ela. Mas ela gostava tanto tanto tanto da brincadeira que não conseguia mesmo parar. E seguia brincando sozinha. Até que um dia não precisou mais ficar sozinha.
Tonico era um menino levado, que jogava bola e bolinhas de gude, soltava pipa e brincava de carrinhos. Mas o que Tonico gostava mesmo era de brincar de pião.
O pião rodava e rodava e Tonico ficava parado, admirando. Como gostava de ver as voltas que ele dava! Os outros meninos não achavam muita graça, e ele acabava brincando sozinho. Até o dia em que mudou de escola.
Primeiro dia de Tonico na escola, primeiro recreio. Ele foi com seu pião para o pátio. Ia começar a brincar quando Anamaria chegou e começou a rodar. E ele adorou aquilo! Se apresentou. Ficaram amigos.
E Anamaria continuou rodando, rodando. Tonico continuou olhando, olhando. Cresceram, mudaram suas manias. Mas gostavam tanto de ficar juntos que não mudaram isto. Casaram, tiveram dois filhos. Uma menina que brinca de pião. E um menino que adora rodar e rodar. E os pais, rindo muito, deixam os dois cirandarem juntos. Porque a vida está sempre girando e bom mesmo é aproveitar!

Cecília no País das Maravilhas

Cecília olhava distraída para as águas do rio. Entrou e saiu diversas vezes da água, até cansar. Era uma tarde amena, com sol fraco e brisa suave. Um dia bom para tomar banho de rio. A menina andara até ali sozinha, como já fizera outras vezes, para
refrescar-se. A cidade era quente, a maior parte do tempo. A praia, tão longe que Cecília não tomava conhecimento de sua existência. Mas o rio estava sempre ali, pronto, esperando por ela. E como ela gostava daquele rio! Tão distraída estava que não percebeu o perigo que a rondava.
Por toda a volta do rio, animais de todo porte circulavam. Cecília os reconhecia e amava. Alguns, no entanto, eram traiçoeiros. E foi um destes que se aproximou da menina. Uma cobra enorme rastejou discretamente até seu lado. Quando preparava-se para dar o bote, Cecília sentiu sua presença. Apavorada, saiu correndo para dentro da mata.
Cecília correu e correu até perder o fôlego. Parou, cansada, para respirar com calma. Olhou para trás: nem sinal da cobra.
Olhou à sua volta: só verde por todo lado. Tinha entrado bem dentro da mata e sabia estar perdida. 'Pelo menos estou segura', pensou. 'Mas, como vou sair daqui?'
A menina pensou em voltar no sentido de onde viera, mas o medo da cobra a impedia. Estava refletindo sobre o que fazer quando algo passou rápido ao lado dos seus pés. Cecília só viu uma pequena mancha branca pulando e, curiosa, resolveu ver o que era.
Logo adiante, o animal parou. Era um coelho, a menina viu. O pequeno coelho entrou
dentro de uma gruta e Cecília resolveu segui-lo. Mas logo se arrependeu de fazê-lo.
Cecília não poderia saber, mas a gruta não tinha chão: assim que entrou, a menina caiu num imenso buraco escuro, que parecia não ter fim. Caiu, caiu, caiu. Até que... poft! Bateu com o bumbum no chão. 'Finalmente!' - pensou – 'estou pisando em algo'. Cecília levantou e saiu andando. Notou que estava dentro de um túnel estreito. Caminhou pouco e logo chegou ao final do túnel. E o que viu foi inacreditável!
Diante de seus olhos, a mais perfeita floresta que já vira na vida! As árvores verdes,verdes, verdes, com frutas de todo tipo. O chão, coberto de uma grama macia, fininha. Flores de todas as cores enfeitavam a paisagem. Ao longe, uma cachoeira de águas bem claras terminada em um rio sinuoso. E, o mais inacreditável: um céu azul azul azul, com dois sóis brilhando forte no meio dele! Cecília coçou o olho uma, duas, vinte vezes! Não acreditava que aquilo fosse possível, mas estava mesmo vendo aquilo! Um outro mundo, debaixo da terra. Muito mais colorido e perfumado que o seu. Cecília estava encantada!
Caminhou sem pressa pela grama, parou para cheirar muitas flores. Sacudiu o galho de uma árvore e comeu a maçã mais doce de toda sua vida. Andou até o rio e tomou um banho refrescante na cachoeira gelada. Por todo canto, pássaros entoavam doces melodias. Cecília estava feliz. Nadou pelo rio calmo
até alcançar a margem. Saiu, devagar, e sentou-se à beira dele. De repente, sentiu um vulto. 'Uma cobra!', pensou, lembrando-se do perigo que correra mais cedo.
Levantou-se rápido e virou-se, preparada para enfrentar um bicho. Mas, desta vez, não tinha bicho. Atrás de Cecília, sorrindo para ela, estava uma menina. Uma linda menina de cabelos amarelos e olhos azuis.
  • Olá! Desculpe, não quis assustá-la.
  • Mas assustou! Achei que fosse uma cobra!
  • Cobra? - a menina riu – não temos cobras por aqui!
  • Não tem cobras? Nunca vi uma floresta que não tivesse cobras!
  • Aqui não tem. Como você se chama?
  • Cecília. E você?
  • Alice.
  • E você mora aqui?
  • Agora, moro.
  • E que lugar é este?
  • É a minha casa, oras!
  • Sua casa? Esta floresta?
  • Tudo isto. A floresta, a cachoeira, o rio. E minha casa, que fica logo ali adiante. - disse Alice, apontando uma casinha que Cecíli
    a não tinha visto até então.
  • Nossa! Muito linda a sua casa! - Cecília estava encantada com aquele lugar.
  • Obrigada. E você? Mora perto?
  • Moro lá em cima, no alto do buraco.
  • E lá tem floresta?
  • Tem, sim. Tem um rio enorme, muito maior do que este aqui. E tem cobra...
  • Ruim ter cobra, não é?
  • Não muito. Só se elas resolverem pegar o pé da gente.
  • É, acho que sim. Você gosta de morar lá?
  • Gosto, sim. Moro com a minha mãe. Estamos sempre bem juntinhas.
  • Eu moro com a Diná, minha gatinha
  • Só vocês duas?
  • É, somos só nós duas. Como você.
  • É, como eu... - Cecília pensou um minuto. - Mas eu tenho a minha avó, também.
  • É bom ter avó?
  • É como ter uma mãe que não dá bronca.
  • Ah, então é muito bom!
  • É, sim! E ter uma gatinha, é bom?
  • É, muito! A Diná é muito carinhosa. Mesmo se eu dou bronca nela!
  • E você dá bronca nela?
  • Às vezes eu tenho que dar. Você sabe, é como se eu fosse a mamãezinha dela.
  • Tem que cuidar dela, né?
  • É, tenho.
As duas meninas ficaram, então em silêncio, paradas, olhando para o rio. Cecília pensava em sua mãe, agora. Estaria ela preocupada com seu sumiço? Há quanto tempo estava ali embaixo? Tinha perdido a noção das horas e achava que sua mãe deveria estar angustiada com sua demora.
  • Eu acho melhor eu voltar para casa, agora.
  • Por que?
  • Porque minha mãe deve estar preocupada.
  • Por que você não a traz aqui?
  • Seria bom, né?
  • Claro! Acho que ela ia gostar muito! E eu ia gostar de ter vocês aqui, também.
Cecília ficou pensando. Olhou tudo à sua volta, com atenção aos mínimos detalhes. Tudo ali parecia melhor do que seu mundo. As cores pareciam mais vivas, as flores mais cheirosas, o ar mais puro e os animais mais felizes. Se sua mãe estivesse ali, seria mesmo perfeito. Ficou pensando nisto durante muito tempo. Por fim, disse:
  • Este mundo é perfeito, Alice!
  • Claro que é, Cecília! É o país das maravilhas, o meu país! Mudei-me para cá e trouxe parte dele comigo. A melhor parte.
  • Entendo... Mas, veja, não é o meu mundo.
  • Mas é melhor do que o seu mundo, Cecília!
  • Pode ser. Meu mundo não é perfeito, mesmo. Tem muita coisa errada acontecendo nele. Tem gente acabando com a floresta tem gente que maltrata os animais...
  • Então! Por que você não muda para cá, de uma vez?
Cecília sorriu. E disse:
  • Porque aqui é perfeito. O meu mundo, não é. Mas, quem sabe, se não sou eu quem vou conseguir mudar o mundo lá em cima?
  • Você vai?
  • E por que não? Uma hora, alguém precisa começar a consertar o que está errado!
  • Mas aqui você também pode mudar as coisas!
  • Eu sei, eu sei! - riu Cecília – mas é lá que precisam de ajuda.
  • Volte, então, para me visitar. Ao menos prometa-me isso.
  • Está prometido! Agora, me diga como faço para sair daqui.
  • É só pegar o caminho de volta – disse Alice, apontando o túnel de onde Cecília caíra.- Vá andando e andando e quando você piscar os olhos estará de volta ao lugar de onde veio.
  • Ah, sim. Está certo. Bom, até a próxima! - disse Cecília, dando um abraço em Alice.
  • Apareça sempre! - respondeu Alice, abraçando Cecília com força.
Cecília começou a caminhar de volta e em instantes estava dentro do túnel. Ele parecia ainda mais escuro que antes e a menina não enxergava nada. Estava andando devagar, preocupada em não cair naquele imenso breu e não achar mais a saída para lugar nenhum. Andou, andou, até que...
  • Cecília! Cecília!
  • Ãhn?
  • Cecília, o que houve?
  • O que... Onde estou?
  • Na beira do Araguaia – respondeu sua mãe rindo. Dormindo! O que aconteceu, Cecis?
A menina olhou à sua volta. Teria sido tudo aquilo um sonho?Não, tinha sido real. Ela sabia.
  • Mamãe... quanto tempo eu dormi?
  • Não sei filha, vim te buscar agora. Vamos para casa?
  • Claro.
  • Que cara é esta, Cecis, aconteceu alguma coisa?
  • Eu estive viajando pelo país das maravilhas...
  • Ah, sim – concordou sua mãe, sorrindo. E que tal o país das maravilhas?
  • Muito diferente do nosso!
  • É mesmo? E qual você prefere?
  • O nosso, certamente.
  • Mesmo sem ser das maravilhas?
  • Tem muita maravilha aqui, mãe. Basta o povo ter consciência disto. E exigir mudanças no rumo da nossa história!
  • Nossa! Tá falando como política!
  • Quem sabe? - disse Cecília rindo – o que tem para o jantar?
  • Tudo que você quiser!
Mãe e filha, unidas como sempre, voltaram juntas para casa. Teh, a mãe de Cecília, passou a brincar com a filha, dizendo que ela era o futuro do país. Teh não sabia, mas estava certa. Toda criança é mesmo o futuro do seu país. E quem sabe não é da força do Rio Araguia que o país precisa para mudar? Pode estar tudo nas mãos de uma pequena menina, nascida às suas margens e criada com tanto amor e dedicação pela mãe, o futuro deste país de maravilhas...

A menina do cabelo de mola


Juliana era uma menina bacana prá chuchu. Era inteligente, divertida, amiga, carinhosa. Tinha uma porção de amigos em todos os lugares: na escola, no prédio, no clube. Seus amigos a chamavam de Jujuba, porque diziam que ela era doce demais para ser Juliana. Jujuba gostava muito de sua escola, mas agora que ela mudaria de série, também teria que mudar de escola. Mas ela não estava preocupada: sabia que logo teria um bocado de amigos novos.
Jujuba foi para uma escola nova em outro bairro, onde não conhecia ninguém. Logo no primeiro dia, conheceu as meninas da turma: Luiza, Fernanda, Gabriela e Maria Antônia. Todas elas eram parecidas: tinham os cabelos loiros e muito lisos – tirando a Gabriela, que tinha os cabelos castanhos, mas também bem lisinhos. Jujuba, por outro lado, era bem diferente delas. Tinha a pele mais escura e o cabelo era de mola: todo enroladinho! Mas isto não impediu que todas se tornassem amigas instantaneamente, claro.
Maria Antônia – Tônia, como a chamavam – era a mais velha da turma. Por isso mesmo, se sentia no direito de decidir a brincadeira. Logo no primeiro dia em que Jujuba entrou para a turma, Tônia disse:
  • Hoje vamos brincar de princesas! Eu vou ser a Aurora, porque o meu cabelo é loiro igualzinho ao dela. A Luiza vai ser a Cinderela. A Fernanda vai ser a Rapunzel, já que ela tem o cabelo mais comprido de todas nós. E a Gabi vai ser a Branca de Neve, porque tem o cabelo escuro.
  • E eu, Tônia, vou ser quem? - perguntou Jujuba.
  • Ih, é, Jujuba, esqueci. Você... vai ser a fada madrinha, está bem?
  • Está bem - Jujuba respondeu, feliz em brincar com suas novas amigas.
Conforme os dias foram passando, Jujuba começou a estranhar a brincadeira. Todos os dias brincavam de princesas. E todos os dias ela não era uma das princesas! Era madastra, irmã malvada ou fada madrinha.Todos os dias ela tinha que, de alguma forma, servir às outras. Até que, no final da semana, cansou da brincadeira. Quando Tônia começou a nomear as princesas, foi logo avisando:
  • Tônia, hoje eu quero ser princesa também! Cansei de ser fada madrinha.
As meninas olharam umas para as outras com espanto. Tônia, um pouco sem graça, disse:
  • Desculpa, Jujuba, mas não pode.
  • Por que? - perguntou a doce menininha.
  • Porque princesa não tem cabelo de mola como o seu!
Jujuba ficou muito, muito chateada mesmo. Acabou não querendo brincar de nada neste dia. Assim que chegou em casa, correu para a sua prateleira de livros e pegou um livro enorme, cor de rosa, com uma única palavra no título: 'Princesas'. Abriu- o e começou a folheá-lo. Tinha as histórias da Branca de Neve, da Rapunzel, da Bela Adormecida, da Ariel, da Cinderela. Nem lia as histórias, estava hipnotizada olhando as gravuras. Nenhuma, nenhuma princesa tinha cabelo de mola! Suas amigas estavam certas. Ela nunca poderia ser princesa. Fechou o livro e chorou. Chorou até dormir. Estava tão chateada que nem levantou para jantar.
De manhã bem cedinho, Jujuba escutou um barulhinho e despertou. Sua irmã mais velha estava na sala, vendo televisão. Foi até a sala e perguntou para a irmã o que ela estava vendo. Levou um susto com a resposta.
  • Acorda, Juliana, hoje é o casamento da princesa!
  • Que princesa? Da Cinderela? - a menina perguntou.
  • Não! Da princesa de verdade, olha ali – e mostrou um príncipe e sua noiva, agora uma princesa, em um casamento de verdade, num país longe que Jujuba nem sabia que existia.
Jujuba assistiu, fascinada, às imagens do casamento. Era tudo tão bonito! A princesa era tão linda, com um vestido tão maravilhoso, e... com um cabelo tão liso. Ao perceber isso, Jujuba não conseguiu conter as lágrimas. Sua irmã não entendeu nada.
  • Que houve, Jujuba, o que te deixou triste?
  • Eu estou triste porque nunca vou ser princesa!
A irmã soltou uma gargalhada, abraçou sua irmãzinha e disse:
  • Você não sabe disso, Jujuba. Quem sabe você não casa com um príncipe de verdade e vira princesa, igual a esta da televisão?
Entre soluços, a menina respondeu:
  • Não, eu nunca vou ser princesa, nem de verdade e nem de mentira.
  • E por que você acha isso? - indagou sua irmã.
  • É porque eu tenho cabelo de mola, e princesa tem cabelo liso! - a menina respondeu isso chorando forte como a irmã nunca vira.
Tatiana, a irmã mais velha, secou as lágrimas dos olhos de sua irmã caçula, deu-lhe um beijo e abraçou-a com força até que ela se acalmasse. Assim que a menina parou de chorar, Tatiana disse:
  • Juliana, eu quero que você olhe para a televisão.
  • Eu tô olhando – respondeu a menina.
  • Presta atenção. Repara nisso: a princesa não se mexe. Tem que ficar ali, parada, acenando com a mão. Está todo mundo olhando para ela, e nem dar um beijo na hora que quer ela pode. Ela não pode fazer nada. É quase uma estátua viva. É isso que você quer?
  • Não, mas...
  • Princesa é bonito em conto de fadas. Mais legal é ser gente de verdade. Assim, igual a mim e a você. Quando eu casar, eu vou dançar a noite toda, vou tomar aquela bebida de bolhinhas chique, vou fazer uma bagunça danada! Não vou querer ficar só acenando minha mão, não! E aposto que você também não quer isso!
Jujuba riu de imaginar a irmã acenando, quase como uma estátua, para todos os que passavam. Não, ela também não queria isso. Deu um beijo na irmã e saiu da sala saltitando de felicidade.
Quando chegou a hora do recreio, na escola, Tônia foi logo definindo os papéis, como sempre. E disse:
  • Jujuba você vai ser a governanta do castelo, nós dançamos e você prepara o chá e...
Jujuba interrompeu sua amiga.
  • Tônia, eu até posso brincar de princesa, mas só se for para brincar direito.
  • Como assim? - as meninas estranharam.
  • Vocês não são princesas?
  • Sim!- responderam todas juntas.
  • Então vocês tem que ficar sentadinhas aí, acenando para todo mundo!
  • Mas, mas, não é assim que...
Jujuba interrompeu Tônia novamente.
  • É assim que é a vida de princesa. Eu vi hoje uma princesa de verdade casando na televisão. Se vocês são princesas, tem que brincar assim!
Mesmo contrariadas, as meninas sentaram e ficaram acenando. Jujuba, com seu cabelo de mola, foi brincar de pique com os meninos, pulou corda, brincou de elástico, fez uma farra tremenda. No meio do recreio, suas amigas perguntaram se não podiam brincar também e ela respondeu que não, princesa só acenava e mantinha a pose. 'Brincadeira de verdade é para gente de verdade', Jujuba explicou.
Daquele dia em diante, nunca mais se brincou de princesa naquela escola. Todas as meninas diziam: 'meu cabelo é liso, mas faz mola quando eu tomo banho. Posso brincar como gente de verdade?' Jujuba ria e concordava. Era bom ter amigas de verdade ao invés de princesas!

Uma história de princesas


Era uma vez uma princesa. Uma princesa muito bonita, que tinha muitos amigos e se divertia muito. Gostava de ouvir música e ler bastante. Vivia a sua vida de um jeitinho só dela, um dia após o outro, na intensidade máxima da juventude. Esta princesa soube um dia, por um destes acasos da vida, que não poderia ser mãe. E ficou um pouco chateda com isto. Mas como levava sua vida um dia após o outro, achou que não deveria gastar muita energia pensando no que não seria.
Um dia, uma anjinha resolveu descer à Terra. Daí a Dona Cegonha disse: 'você não está pronta, tem que esperar'. Mas ela queria muito, muito, muito, descer. Insistiu. A Dona Cegonha continuou seu discurso: ' calma,não tem ninguém te chamando ainda!' E saiu para fazer suas entregas.
Mal sabia a Dona Cegonha que ali, junto com suas encomendas, a anjinha estava escondida, doida para descer à Terra e curtir sua vida como menina. Quando aterrisarram e a Dona Cegonha a viu ali, ficou sem saber o que fazer:
  • E agora, menininha? O que vai ser de você?
  • Ah, Dona Cegonha, vê alguém aí que me queira!
  • Muita gente te quer, meu anjo, mas não estão te esperando...
  • Então vê aí alguém que curta uma surpresa!
Dona Cegonha pensou e pensou. A menininha ia chegar de surpresa e, por ter sido tão apressadinha, ia chegar antes do tempo. Não bastava ser alguém que gostasse de surpresas. Tinha que ser alguém paciente, forte, com coragem e determinação. Lembrou-se da princesa. Disse para a menininha:
  • Olha, tem uma princesa aí que não estava contando em ser mãe e que...
Não conseguiu nem terminar a frase! A menininha, apressadinha que só ela, já foi logo dizendo:
  • Já topei! Se ela é princesa, eu serei sua princesinha. Acertou em cheio, Dona Cegonha, nasci para a nobreza!
E aí a Dona Cegonha deixou a menininha ali na porta da princesa. A princesa, ao receber a encomenda, levou um susto daqueles! Era o maior presente que já tinha ganhado na vida, ficou muito feliz com a surpresa da Dona Cegonha, agradeceu muito. Queria que sua filha se chamasse Luiza, porque este era um nome de princesa. Mas achava que a menininha tinha cara de Taís. Decidida como sempre, logo decretou:
  • Minha princesinha querida, seu nome será Taís Luiza.
A menininha adorou! Gostava de ser Taís e gostava de ser Luiza. Achava que ter dois nomes assim tão bonitos era sinal de realeza mesmo.
A princesa e sua princesinha logo se tornaram mais que mãe e filha. Tornaram-se amigas, grandes companheiras. Onde a princesa ia, a princesinha ia atrás. Divertiam-se muito juntas. A princesa era só felicidade, achava que sua vida não podia ser melhor!
Um belo dia, aconteceu um novo imprevisto. Desta vez, não foi uma anjinha que quis descer. Foi erro da Dona Cegonha mesmo! Eram tantas encomendas acumuladas, que a Dona Cegonha pegou todas de uma vez e desceu à Terra. Saiu deixando os bebêzinhos nas portas das mamães que os haviam encomendado. Entregou um por um, até que... Um susto! Ela tinha trazido uma menininha a mais, por engano. Não era para a menininha ter descido à Terra, era para ela ter esperado mais um bocadinho no Céu. Mas ali estava ela, na Terra, sem ter para onde ir.
Dona Cegonha pôs-se a pensar. E agora, quem ficará com esta menininha? Daí, de repente, Dona Cegonha lembrou-se da princesinha Taís. E lembrou-se que era seu aniversário. E decidiu:
  • Escuta, menininha. Eu te trouxe por engano. Mas tem aí uma princesa Anne que adorou receber uma menininha por engano, e fez dela uma princesinha. Se você quiser, eut e deixo lá também.
  • Eu quero! - apressou-se em responder a menininha-. Vou curtir muito ser princesinha também!
Tudo pronto para a festinha de aniversário da princesinha Taís Luiza, toca a campainha. A mamãe correu para atender, imaginando que seria um presente para a Taís. Na porta, uma menininha esperava com um recado da Dona Cegonha, que dizia assim:
'Princesa Anne Michelle, você gostou tanto de ganhar uma menininha que eu trouxe outra. É um presente para você e sua princesinha, que agora já não fica mais sozinha!'
A princesa Anne não podia acreditar na sua sorte! Ganhara mais uma princesinha, era muita felicidade em um só castelo! Mais uma vez, ficou tão tão tão feliz que não conseguiu decidir por um nome só. E a batizou:
  • Minha pequena princesinha, seu nome será Maria Tereza, um nome forte para te dar forças!
E funcionou! A segunda menininha, tão apressadinha quanto a primeira, logo, logo estava enorme e nem parecia ter chegado antes do tempo.
A vida ali, naquele castelo, era um sonho. As princesinhas faziam tudo juntas, brincavam o dia inteirinho. Tinham uma enorme coleção de bonecas e adoravam penteá-las e dar-lhes banho. Um dia, acharam que ter boneca era legal, mas que talvez fosse mais legal ainda ter um bonequinho. Como as duas conheciam bem a Dona Cegonha, escreveram uma cartinha:
'Querida Dona Cegonha,
A vida aqui está danada de boa! Nós somos as princesinhas da casa, amamos muito uma à outra e nós duas amamos demais a mamãe. Mas a gente estava pensando se você não podia mandar um bonequinho prá gente. Está faltando uns carrinhos por aqui.
Beijos, das princesas Taís Luiza e Maria Tereza.'
Dona Cegonha leu a cartinha, olhou para a Terra. Viu que as princesinhas realmente se divertiam muito juntas. Viu que ali naquele castelo tinha amor de sobra e que um bonequinho seria bem-vindo. Daí a Dona Cegonha procurou e procurou e achou o bonequinho perfeito para presentear as meninas. Colocou em sua sacola e tomou o rumo da casa delas.
Só que a Dona Cegonha caprichou demais! Caprichou tanto que deu uma confusãozinha lá no Céu. Quando o bonequinho estava prontinho para ir para as irmãs, Papai do Ceú chamou a Dona Cegonha de volta, pensando que o bonequinho era um anjinho.
Dona Cegonha ficou bem chateada de não poder dar o boneqinhos que as princesinhas tinham pedido. E resolveu reclamar com Papai do Céu.
  • Escuta, Papai do Céu, eu não discordo de suas decisões, mas neste caso das princesinhas...
  • Sim, Dona Cegonha, o que tem?
  • Olha, elas me pediram um bonequinho, e eu já ia levando quando o Senhor o chamou de volta!
  • É verdade!
  • Mas então. Elas vão ficar danadas da vida comigo!
  • Não vão, não.
  • Ah, mas eu acho que vão, sim! Eu não entreguei o bonequinho que elas me pediram! Não dei o presente que eu havia prometido.
  • Pois você deu um presente muito melhor, Dona Cegonha!
  • Eu dei?
  • Claro que sim! As princesinhas já tem sua coleção de bonequinhas. Elas não precisavam de um bonequinho. Elas precisavam de um anjinho, e foi isso que eu providenciei. Agora, naquele castelo, além do amor que eles tem uns pelos outros na Terra, tem um grande amor, aqui no Céu, que vai para eles. Um anjinho muito especial, que sempre vai cuidar das princesinhas, as irmãzinhas que ele não chegou a conhecer, mas ama muito. E é por conta deste amor que ele ficou aqui. Para sempre proteger aquelas princesinhas...
E foi então que a Dona Cegonha se deu conta que tinha mesmo dado um presentão para as princesinhas. Elas eram uns amores, mas eram bem bagunceirinhas também! Era bom que tivessem mesmo um anjinho tão especial, só para cuidar delas.
E assim foi que o bonequinho virou anjinho, e as princesinhas não tiveram carrinhos...
Não tiveram? Qual o que! A princesa Anne tratou de encher as duas princesinhas de ainda mais amor e atenção, deu-lhes ainda mais bonecas e disse: 'se vocês quiserem brincar de carrinhos, é só me pedir! Não precisam mais encomendar nada à Dona Cegonha!'
E assim foi que aquele reino, que era para ser de uma princesa solitária, virou a vida de uma princesa e suas duas princesinhas. Um reino mágico, onde tudo era amor e carinho. Um reino lindo, todo cor-de-rosa, porque assim era para ser.
Do alto, Papai do Céu vê as três princesas juntas e sorri feliz. Ao seu lado, o anjinho está tranquilo. Tem feito um bom serviço em mandar cada vez mais amor às suas tão amadas princesinhas...